Obra em progresso

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Cercado por um tapume, em obras, o sobrado que vai abrigar o novo Cinema da Praça desperta curiosidade. Quem passa pela Praça da Matriz e vê a movimentação no entorno do imóvel certamente se pergunta quanto tempo ainda vai durar a reforma e quando será a inauguração. Desde que foi adquirido pela Prefeitura de Paraty, em 2011, o sobrado branco de portas e janelas vermelhas passou por diversas fases: em 2014, a Secretaria de Cultura solicitou uma vistoria, já com a intenção de devolvê-lo aos moradores da cidade. Assim, a partir de agosto de 2014, foi criado o Espaço Experimental de Cultura| Cinema da Praça, onde houve uma ocupação temporária do espaço – a Ocupação Criativa, com múltiplas atividades culturais, realizadas até meados de 2015. Em seguida, o projeto de reforma e adequação, assinado pelo arquiteto e urbanista Marinho Velloso, da Secretaria de Obras da Prefeitura de Paraty, foi concluído e aprovado pelo IPHAN. A Petrobras se juntou ao projeto como principal patrocinadora, através da Lei Estadual de Incentivo a Cultura, e, com uma contrapartida financeira da Prefeitura de Paraty, as obras se iniciaram em junho de 2016. Para compreender o antes e o depois do projeto, e saber mais detalhes sobre o atual estágio da obra, a reportagem do Cinema da Praça conversou com o arquiteto Marinho Velloso e com a engenheira Marina Rio Lima de Montgolfier, também da Secretaria de Obras da Prefeitura, responsável pela mais recente vistoria da obra. Confira o que eles contaram sobre o projeto:

Cinema da Praça: Qual foi o primeiro estágio da obra, ou seja, como o sobrado se encontrava, no início, e quais foram as intervenções necessárias na primeira etapa?

Marinho Velloso: O sobrado esteve fechado por muitos anos, com parte de sua estrutura condenada e sem permissão dos bombeiros para uso. Era usado principalmente como depósito. O primeiro passo foi identificar e isolar as áreas de risco, e prover de infraestrutura mínima o restante, para que o espaço fosse aberto provisoriamente e ocupado por atividades culturais, oficinas e coletivos. Esse processo foi importante para chamar a atenção para importância e o potencial do espaço existente, e para a possibilidade da reforma atual, que foi pensada com participação dessas pessoas que já utilizavam o espaço na ocupação criativa. A primeira fase da reforma, na qual nos encontramos, trata dos serviços preliminares de engenharia, fundações, estrutura, alvenaria, instalações elétricas e hidrossanitárias.
Marina R.L. Montgolfier: Apesar de não ter participado desse primeiro estágio da obra, pois quando entrei já estavam executando as fundações, eu tinha ciência de que uma parte da estrutura estava condenada e precisaria ser demolida.

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CP: Qual foi o maior desafio do projeto de arquitetura?
MV: O maior desafio foi conciliar de maneira apropriada as múltiplas demandas de uso e flexibilidade do espaço com a preservação das características específicas do bem tombado. O sobrado carrega em seu interior uma atmosfera própria que balizou todo o projeto: uma atmosfera de liberdade e potencial de uso, por sua grande integração espacial – como uma casca vazia ou uma obra aberta – por suas múltiplas camadas de história em suas paredes aparentes. Portanto, foi fundamental procurar manter essas características tão especiais e pertinentes a um equipamento público de produção e exposição de cultura em uma cidade como Paraty.

CP: Quais são os aspectos da obra do Cinema que dão mais trabalho e mais demoram?
MM: São os serviços de demolição, que precisam ser executados com todo o cuidado possível. A estrutura existente não pode ser demolida toda de uma só vez, ou corre um sério risco de alguma parte desabar. Esses serviços estão sendo executados aos poucos, à medida em que a estrutura nova vem sendo concluída e a estrutura do prédio sendo reforçada. Outro serviço que vai demandar bastante tempo e trabalho é o de restauração das paredes em tijolo maciços. Nele, os tijolos defeituosos ou com problemas serão substituídos, os novos serão assentados em argamassa com acabamento de pó de tijolinho. Depois, todos eserão escovados e lavados, para então receber aplicação de verniz.
MV: O projeto de restauro tem como critério a intervenção mínima, de modo a preservar ao máximo as paredes originais e as marcas da passagem do tempo que elas transmitem, bem como distinguir claramente o novo do antigo. Deste modo, as paredes existentes serão tratadas e recuperadas para serem mantidas em alvenaria de tijolos maciços aparentes, enquanto as paredes novas terão acabamento liso, com reboco e pintura. A lógica de manter legível a intervenção e o funcionamento da edificação se estende para a estrutura, instalações elétrica e hidráulica, que são também aparentes. Por serem externas, evitam danificar paredes antigas e facilitam a manutenção, questão sensível em prédios públicos.

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CP: Em qual estágio da obra estamos e qual a previsão de inauguração do Cinema da Praça?
MM: É importante salientar que a obra foi dividida em três fases: a primeira (na qual estamos), trata dos serviços preliminares de engenharia, fundações, estrutura, alvenaria, instalações elétricas e hidrossanitárias. Na segunda etapa, a ser iniciada ainda em novembro, começarão os serviços de acabamento (revestimentos, pintura, esquadrias). Na terceira fase, a ser iniciada em janeiro de 2017, serão contemplados os serviços que não têm ligação com obra propriamente dita, mas que precisam ser executados, tais como: pré-produção, preparação, produção/execução, instalação de equipamentos de palco, instalação de equipamentos e serviços de cinema, mobiliário, entre outras coisas.

CP: Terminada a parte estrutural, como será o acabamento? O sobrado manterá as cores originais?
MV: Para definir as cores das portas e janelas da fachada será necessário realizar uma raspagem cuidadosa para tentar identificar as camadas antigas de tinta, já que o vermelho atual não corresponde às cores da época. Esta é uma exigência do IPHAN, que possui um catálogo de referência das cores de então, de modo a não descaracterizar o conjunto tombado.

Por Rosane Queiroz

Foto: Ocupação 16

 

Eu me lembro que…

Restaurar e devolver o cinema da cidade a população de Paraty é o objetivo do projeto Cinema da Praça|Espaço Experimental de Cultura. A partir da iniciativa de sua Secretaria de Cultura, Paraty terá de volta seu cinema, como um equipamento cultural público, com programação permanente, diversificada e de qualidade.

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Para registrar a memória afetiva dos moradores que frequentaram o antigo cinema, o grupo Ocupação 16, junto a equipe de conteúdo do projeto, tem feito entrevistas que contam um pouco da importância do cinema que foi ponto de encontro de amigos e palco de namoros até meados dos anos 70. Aqui, Adiléa Ferreira conta seus melhores momentos:

 

Valorizando sua arquitetura única e a localização estratégica no Centro Histórico, o Cinema da Praça|Espaço Experimental de Cultura tem como missão consolidar-se como um dinâmico e acolhedor centro de difusão, documentação, experimentação, formação e produção de cultura em Paraty.

O Cinema da Praça|Espaço Experimental de Cultura é uma iniciativa da Prefeitura de Paraty, por meio da Secretaria de Cultura, em parceria com a Associação Paraty Cultural, com patrocínio da Petrobras, do Governo do Rio de Janeiro, da Secretaria de Estado de Cultura e da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro e apoio da Comunitas.

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